Check!
Quem me conhece sabe que minha saude é algo mais instavel que a lealdade do Temer. Tenho longos relatos nesse blog sobre minhas passagens por hospitais lioneses. Reconheço cada um pelo cheirinho do banheiro. Fiz uma cesareana pra retirada de um tumor em 2012. Em 2013, fui operada do coraçao. Recentemente, descobri que meus joelhos tem uma pequena ma-formaçao, o que faz com que as rotulas escolham qual caminho seguir quando dobro os joelhos. Por isso, semanalmente, faço uma sessao de fisioterapia. Em sete anos de Lyon, dei entrada no Hôpital Femme Mère Enfant (ala endocronologica e ala cardiaca), no Edouard Herriot, no Hospital Militar e, recentemente, no Saint Joseph Saint Luc. Esse recentemente guarda a historia de hoje.
Ha duas semanas, eu estava de bouas no meu quarto tentando me lembrar no Netflix do ultimo episodio de HIMYM assistido. Faz uns dois anos que eu tento terminar essa série. Eu tou na segunda temporada. Tem muita coisa na vida pra se ver, minha gente. E o Netflix nao veio ao mundo pra trazer paz de espirito à gente indecisa e sem foco. Eu sou de gêmeos. Gê-me-os. A gente sai de casa pra comprar pao e volta inscrita na faculdade de musica. Com um sorvete na mao. Mas a questao é que eu comecei a sentir uma dor no peito. Assim, tao de repente. E a dor foi aumentando, aquele aperto no coraçao. Nao era uma dor de pressentimento porque lembrei que meus filhos nao estavam viajando de carro e que meu marido nao estava na guerra. Lembrei ainda que eu nao tenho filhos. "Meu deus, por que essa dor? Seria amor?"
Nao era.
Entao, me apoiei na mesa e comecei a chamar pelo nome da minha esposa Gertrudes, porque essa se parecia, em muito, com uma dor que somente uma pessoa com uma esposa de nome Gertrudes tem. Mas ninguém respondeu ao meu chamado. Ainda bem, diga-se de passagem.
A dor foi tao abrupta, que pensei que poderiam estar fazendo vudu comigo. Mas, como sabiamente disse o Pica-Pau, "vudu é pra jacu". Qualquer que fosse a origem, o importante é que, quando eu me debruçava, doia. Quando eu respirava, doia. Foi aih que descobri que meu recorde em apneia, num momento de desespero, é de quinze segundos. Imaginando que praticar apneia nao iria necessariamente ajudar, tomei um paracetamol. Acho que se eu tivesse comido um amendoim, eu teria tido o mesmo alivio. Foi entao que decidi fazer minha visita anual ao hospital.
Minha coloc foi comigo. Enquanto eu era atendida por um enfermeiro, ela fazia minha ficha na recepçao. Perguntaram a ela o que eu fazia na França, porque eu me mudei, se eu estava legal no paihs. Vocês sabem, essas informaçoes super uteis pra quem esta dando entrada num hospital. Eles alegaram que as perguntas eram necessarias para saber se ela me conhecia bem. Sério? "Nao, querida, ela me achou na rua, me deu um golpe de clava e me arrastou pro hospital".
E aih começou aquele procedimento de praxe: questoes sobre o historico de saude familiar. Meus pais tem problemas cardiacos? Na familia temos problemas de pressao alta? Eu sei que o intuito é de guiar um pouco os medicos, mas eu tenho trauma de diagnosticos equivocados. Como por exemplo, da medica que me receitou vitaminas quando eu disse que estava perdendo os cabelos devido ao tumor. Entao, pra que eles nao se baseiem em uma pista falsa, respondo
- Adotados. Todos.
- Seus pais sao adotados?
- Todo mundo. Meu pais e os pais dos meus pais antes deles. E os pais dos pais dos meus pais antes deles também. Ninguém sabe de historico familiar, é uma coisa louco, doutor. Qualquer um pode ter uma doença hereditaria. Ou nao. Acho que até eu sou adotada. E quem sabe eu sou sua filha. Pai, me cura.
Assim, ele teve que fazer radiografias dos meus pulmoes de baixa capacidade apineica e um exame de sangue completo. Enquanto isso, eu tava tao branca que estava desaparecendo aos poucos na maca. Quando a enfermeira voltou, soh tinha a pulseirinha com meu nome em cima do lençol. Mas ela me encontrou e começou com outra sessão de perguntas:
- De zero a dez, qual a intensidade da sua dor?
- Sei la, oito.
- Oito?! Mas entao é uma dor quase insuportavel!
- Ah nao, pera, moça! Seis entao.
- Seis?! Mas entao nao é tao forte assim.
- Nao, ah meu deus! Seis e meio? Seis ponto oito? Sete?
Eu morrendo aos poucos e a mulher querendo que eu desse conta de dar nota pra dor.
- Olha, eu nao sei. Quando eu nao respiro, a dor é seis. Mas quando eu respiro é oito e, quando eu respiro profundamente, é nove. Entao, como eu nao posso parar de respirar...
- Claro, né!
- Mingula! Claro o que? Fale direito que eu tenho o coraçao que poderia ser o da sua avoh!
Eu passei a noite dando nota pra essa dor. So que eu estagnei no sete. A dor ja estava mais suportavel e eu podia até bocejar, vejam soh que sorte a minha, mas eu tive medo que eles me mandassem pra casa ainda com dor, entao fiquei la por mais algum tempo, até eles descobrirem o que eu tinha.
La pras 3h da manha, o médico do hospital trouxe o veredicto: pericardite. Isto nada mais é que uma inflamaçao na membrana que envolve o coraçao. Três meses de tratamento, um mês longe do trabalho e repouso absoluto sob risco da coisa voltar.
Uma semana depois, fui consultar um cardiologista pra fazer um electrocardiograma.
- Por que você estah aqui?
- Eu tive uma pericardite.
- Sua familia tem historico de problemas cardiacos?
- A sua tem?
- A minha? Tem.
- Papai?
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um figo com pericardite |
Uma semana depois, fui consultar um cardiologista pra fazer um electrocardiograma.
- Por que você estah aqui?
- Eu tive uma pericardite.
- Sua familia tem historico de problemas cardiacos?
- A sua tem?
- A minha? Tem.
- Papai?